domingo, 23 de agosto de 2009

Iris antecipa anúncio de candidatura

Lançamento é tentativa de peemedebista de conter onda pró-Meirelles provocada por visita de Lula

Não foi só a pré-candidatura a governador do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, que a visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva a Goiás pode ter antecipado. O prefeito de Goiânia, Iris Rezende (PMDB), também deve anunciar sua pré-candidatura dentro das próximas semanas, revelam fontes ligadas ao peemedebista.

Iris ponderou a aliados nos últimos dias que o fato de Meirelles ter entrado no páreo, contando com a preferência de Lula, reduziu a perspectiva de poder do PMDB e, com isso, o partido corre o risco de perder quadros até o final do período de filiação, em setembro. Além disso, enfraquecida após a passagem de Lula no dia 13, a sigla caminhava para assumir papel de coadjuvante nas negociações para a sucessão estadual.

Ao se colocar na disputa, o PMDB voltaria a ocupar lugar central na mesa de negociações da base lulista. Iris queria evitar a antecipação do embate eleitoral e preferia manter os holofotes na administração. Mas avaliou que após os últimos fatos políticos, somados à movimentação intensa do senador Marconi Perillo (PSDB), ficou difícil prorrogar a pré-candidatura.

“Pelo que conversei com o prefeito, tenho a convicção de que nos próximos dias ele vai decidir sobre sua candidatura”, afirma o presidente estadual do PMDB, Adib Elias. “As eleições estão aí, não dá para adiar muito. E o partido quer Iris candidato, não temos como segurar mais esse sentimento”, justifica Adib.

A cúpula do PMDB pretende intensificar o diálogo de Iris com prefeitos e lideranças do interior em setembro, promovendo reuniões no Paço Municipal, e cogita promover um ato político pedindo que anuncie de forma mais veemente sua candidatura.

Embora ainda mostre cautela em avançar no processo, o prefeito disse a interlocutores que vai “dar uma sacudida” no cenário político e no PMDB em setembro. Sua intenção, dizem fontes do partido, não é se colocar definitivamente como candidato. Vai deixar uma porta aberta para possíveis composições.

Debandada
Logo após Lula apontar preferência por uma candidatura do presidente do BC, o PMDB detectou que algumas lideranças no interior já começaram a pavimentar uma aproximação com o PP do governador Alcides Rodrigues, partido no qual Meirelles deve se filiar. Acreditam que só Iris teria força política suficiente para segurar uma debandada e garantir o empenho da legenda por um candidato próprio.

“Sem Iris, as chapas proporcionais do partido afundam e o PMDB acabará indo em direção à candidatura mais palpável, que hoje é a de Meirelles. Ninguém no partido tem mais idade para aventura”, avalia o deputado estadual José Nelto, um dos que pediram ao prefeito que entre de vez no processo. “Hoje, só Iris segura o PMDB. Com ele, vamos para a guerra”, afirma.

Mesmo que não leve adiante o projeto de disputar o governo, ao se colocar no páreo, avaliam auxiliares, Iris puxaria para si as articulações visando uma composição. Evitaria assim que as negociações com lideranças de seu partido fossem realizadas no varejo, o que enfraqueceria o PMDB.

A pré-candidatura de Iris também teria força para reduzir o ímpeto de algumas lideranças do PT que têm simpatia por uma aliança com o PP. Sua disposição em entrar na disputa acende a perspectiva dos petistas assumirem a Prefeitura de Goiânia.

As últimas declarações do prefeito mostram disposição em se posicionar no processo eleitoral. Após sair de reunião fechada com Lula em Brasília, na quarta-feira, Iris garantiu que o PMDB terá candidato a governador. A afirmação contraria o esforço do Palácio do Planalto em ter uma única chapa aliada em Goiás, encabeçada por Meirelles.

Ontem, durante mutirão da Prefeitura na região Sudoeste, o prefeito voltou a defender chapa própria, com o apoio do PT, e disse que não via problema na divisão da base lulista em Goiás. “Ninguém pode se assustar com um maior número de candidatos. Disputei a prefeitura (em 2004) contra outros sete candidatos. Vivemos num pluripartidarismo, quem quiser lançar candidato, que lance, é bom para o povo ter um maior leque de opções”, disse.

Sua inserção na disputa também serviria para criar um fato político novo e superar o mal-estar do episódio com o presidente. Nas palavras de um aliado, seria até “um ato de desagravo pessoal” e uma demonstração de força ao Palácio do Planalto e aos partidos da base após ter sido jogado para escanteio.