Pré-candidato do PMDB ao governo estadual, o prefeito Iris Rezende afirma que o teste de gestão a que o grupo PP-PSDB – agora em crise – foi submetido será o trampolim para a volta dos peemedebistas ao Palácio das Esmeraldas. Em entrevista ao POPULAR, no Paço Municipal, Iris afirma que venceu as eleições em Goiânia em 2004 e 2008 porque a proposta do novo, feita pelo hoje senador Marconi Perillo (PSDB), “não deu certo” – em referência ao bordão do tempo novo cunhado pelo tucano.
O governador Alcides Rodrigues tem dito que o índice de 73% de indecisos na pesquisa Serpes/ O POPULAR, na consulta espontânea, indica um espaço para um projeto político eleitoral alternativo ao do PSDB e ao do PMDB. O senhor acredita que há espaço para isso em Goiás?
Uma suposição, não gosto de falar em hipótese, mas se amanhã me declarasse candidato a governador, não tenho dúvida de que aquela porcentagem de 40% que eu tenho lá viria para 50%, porque na verdade como você vai buscar (um resultado) numa manifestação espontânea se eu nunca falei que sou candidato? Mas acho que tem campo para outros candidatos, sem dúvida. Disputei a prefeitura de Goiânia em 2004 com mais sete postulantes e não ganhei no primeiro turno por uma diferença pequena. Acho que o número de candidatos não prejudica, pelo contrário, dá oportunidade para uma discussão mais abrangente das questões que afligem o Estado.
Esse crescimento aconteceria também para Marconi Perillo (PSDB) se ele afirmasse que é candidato e, consequentemente, isso reduziria o espaço para a terceira via?
Uma terceira via tiraria voto de onde? Do lado de lá. No momento em que o governador faz surgir essa terceira via, é para tirar alguma coisa do lado de cá. Mas ela (a candidatura) vai penetrar muito mais fortemente no terreno que tem sido comum deles, e agora, ao que parece, há uma disposição de candidatura própria. Sobretudo sob a liderança do PP e do governador.
O senhor acha que é possível essa idéia de terceira via em Goiás? Pela experiência que acumulou, existe espaço em Goiás para uma alternativa aos grupos que tradicionalmente se enfrentaram numa disputa eleitoral?
Ninguém pode negar a liderança do governador, tanto é que ele chegou ao governo. É um político de tradição em Goiás. Agora, eu o vejo em condição de liderar uma terceira via? Acho que sim, sobretudo na área em que ele está integrado. No nosso terreiro, o avanço será pequeno.
Por que, prefeito?
Porque ele foi sempre ligado às forças de lá.
Segundo a pesquisa Serpes, o governo de Alcides é considerado bom e ótimo por cerca de 34% das pessoas. Um governo essa imagem consegue reunir força política suficiente para construir um projeto eleitoral alternativo?
Tem, indiscutivelmente. Ele (Alcides) tem sido um chefe de governo humilde, esforçado e, embora em pequena dosagem, tem mostrado ao Estado que a situação do governo que ele recebeu era a mais precária possível. Então tudo isso dá a ele condições para um bom desempenho eleitoral.
Prefeito, se o senhor fosse pesquisado pelo Serpes, como avaliaria o governo de Alcides: ótimo, bom, regular, ruim ou péssimo?
Na minha condição eu diria que tenho que avaliar o governo levando em conta a situação em que ele recebeu o Estado – segundo a gente vai pinçando pela própria imprensa, pelas declarações do governador e dos próprios auxiliares – ele recebeu um Estado arrebentado, a Celg falida, Saneago em dificuldades profundas, um déficit de R$ 100 milhões por mês. Se ele tivesse recebido um Estado em situação boa e tivesse feito o que tem feito, a minha nota não seria de governo bom. Mas, levando em conta a situação do Estado que ele recebeu, e ele tem conseguido um desempenho razoável, então a minha nota é maior, porque quem milita na política, quem conhece administração pública como eu conheço, tem de levar em conta a situação do Estado que ele recebeu. E, segundo consta, foi de uma situação precária.
O senhor tem dito que a próxima eleição será muito apaixonante...
Vai ser uma eleição emocionante porque vai ficar mais nas mãos do eleitor do que de lideranças, porque normalmente quem dita comportamento social numa época de eleição é o líder. Por que a próxima eleição será diferente? É porque é o próprio povo quem vai definir quem é o melhor, porque ele conhece os dois. Hoje nós temos três forças políticas: o PMDB e os seus partidos aliados; o governo do PP e os seus partidos aliados; e o PSDB com os seus partidos aliados. Lá no PSDB, a liderança maior, indiscutivelmente, é o senador Marconi; no PP é o governador Alcides, e no PMDB é esse grupo aí que vem se colocando na oposição desde que perdemos a eleição para governador em 1998. Bem, então o povo conhece hoje de sobra Iris e os seus companheiros. Conhece de sobra Marconi e os seus companheiros. Conhece de sobra Alcides e os seus companheiros. Então, vai ser fácil demais para o povo definir. Demais.
Na sua opinião, o que o eleitor vai levar em conta para se definir por um por um desses projetos eleitorais? Qual será o discurso, qual o mote da campanha do ano que vem?
Competência administrativa. Sistema de administrar. Responsabilidade, sobretudo na condução dos negócios públicos. Então, a hora em que começar a campanha, forem definidos os candidatos, você vai notar. Não vai adiantar propaganda bonita, o povo não vai se deixar enganar, o cidadão vir e oferecer 400 mil casas, 200 mil empregos, não adianta isso mais. “Vou asfaltar o mundo, vou fazer isso, aquilo”, não vai (adiantar prometer). Como é que vou falar de uma coisa se ocupei o governo e não dei conta? Por que é que agora vou dar conta, por que agora vou fazer? Então, é o conhecimento que o povo tem desses líderes. Quando fui candidato em 1982, o primeiro item era de que o Iris representava a reação a um sistema de arbítrio implantado no País. Valeu um pouco o meu comportamento como prefeito de Goiânia, quando fui cassado. Hoje o povo sabe qual é o sentimento que cada um tem com as classes mais sofridas. É a vivência que cada um (candidato) tem na política que vai fazer o povo abraçá-lo ou despedí-lo.
Na eleição de 1982, o senhor era um representante da luta contra o arbítrio e tinha uma imagem de administrador em Goiânia. Em 1990, defendeu a reconstrução do Estado em crise no final do governo Santillo. Em 1998, defendeu a imagem dos governos do PMDB e o povo optou pelo novo, pela mudança. Agora...
O povo acostumou com obras, com tudo.
Pelo que está falando, a marca do PMDB continua sendo a de construtor de obras. O que vai diferenciar o discurso de agora daquele de 1998?
Construção de obras, valorização da pessoa humana, a competência de gestão... Por que você acha que fui eleito prefeito em Goiânia há cinco anos? Foi pelo conhecimento que o povo de Goiânia tinha do meu comportamento em frente à administração. Foi por isso. Quando eu decidi pela candidatura a prefeito, já haviam sete postulantes. Fui o oitavo. E você veja bem que, no segundo turno, se juntaram todos contra mim. O presidente Lula apoiou o Pedro Wilson, porque era o candidato do seu partido. O governador Marconi apoiou publicamente em caminhada o seu candidato. Não adiantou nada. Por quê? Porque eu já era conhecido. E o novo já não deu certo. A verdade é essa. O novo em Goiânia não deu certo. Então, esse processo vai repetir, eu acredito. Agora, não quero dizer em termos de nome, mas em termos de forças políticas, como é que essas forças se comportam na administração. Goiânia não deixa de ser um espelho. O povo está notando qual o comportamento dessas forças com o poder nas mãos. É uma situação bem diferente, bem especial.
O PSDB construiu a imagem de que fez uma administração modernizadora. Não é um partido de obras, mas fala em uma gestão de modernização do Estado e também de preocupação com o ser humano, com investimentos na área social. O senhor não acha que esse é um discurso forte para contrapor ao do PMDB?
O povo quer resultados. Muita propaganda se fez. Que inovação experimentamos? Foi na área da informática, com o avanço da informática em todo o mundo. O governo tinha de aproveitar todo esse potencial que tinha às suas mãos. Bem, mas e o social? Onde ficaram as casas populares que anunciaram naquela época? Não sei.
Mas e as conquistas sociais, como distribuição de renda por meio de programas como Renda Cidadã?
Não, espera aí! A primeira preocupação com o social tem de envolver a família, a moradia. Tem de envolver um bom ensino, boa saúde, desenvolvimento. Porque pensar em social não é simplesmente distribuir esmola. Pensar em social é valorizar, dar oportunidade para a pessoa se desenvolver. E é isso que estamos fazendo na Prefeitura de Goiânia, sem barulho, sem publicidade. Hoje a população de Goiânia é feliz. Claro que numa população de um milhão de habitantes você não põe 100% (das pessoas) felizes. Mas, de modo geral, a autoestima do goianiense está alta, levantou, se agigantou. De conversa e publicidade, o povo anda cheio. Por isso eu digo: todos são conhecidos. Alguns prometeram e não fizeram. Essa é a grande verdade.
Uma das forças, o PSDB, está se preparando para se colocar na oposição ao governo do Estado. O senhor acha que a entrada do PSDB na oposição vai complicar o discurso do PMDB?
Eu até me reservaria para fazer uma avaliação dessas num futuro, não hipoteticamente. Estou pagando para ver o comportamento dessas forças em relação ao governo estadual, porque acho até que isso vai dar ensejo ao próprio governo, se isso acontecer, de abrir a caixa-preta que até muita gente desconhece. Apenas sei que o governador encontrou o Estado numa situação difícil, com déficit de R$ 100 milhões, mas a caixa-preta não se abriu. Por que o Estado chegou a essa situação? O povo não sabe e precisa saber. E a campanha vai incendiar isso. O que levou o Estado a essa situação? Naquela época não existia ainda crise internacional que passamos a experimentar no último ano. Então há muita coisa aí a se discutir.
O senhor acha que, por isso, o PSDB vai ficar neutro na relação com o governo?
Tem de perguntar isso para eles. Eu sei qual a posição que nós vamos tomar. Essa eu posso dizer, com o incentivo dos companheiros todos.
Não há risco de o PSDB romper com o governo e sobrar para o PMDB a responsabilidade de apoiar esse governo, a governabilidade e até, lá na frente, justificar esse governo?
O PMDB tem de ter um comportamento exemplar como sempre procurou ter. Não podemos trazer a política para um nível que prejudique os interesses populares, do Estado. O PMDB nunca reivindicou um cargo no governo Alcides, e tem dado apoio. Por quê? É o espírito público que norteia nossos sentimentos. O PMDB nunca apoiou o governador, nem apoiaria se por acaso chegasse aí uma mensagem consolidando interesses de terceiros, interesses pessoais. O governador tem sempre encaminhado (à Assembleia) projetos do interesse do governo e, assim, o PMDB não deixará de apoiar mesmo em época eleitoral. Não precisamos adotar o caminho do “quanto pior melhor”, porque temos história. Se o jovem não sabe o comportamento do PMDB, o pai dele e o avô sabem.
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